Territórios em conflito


Acabei de ler este livro, Territórios em conflito, de Raquel Rolnik, que eu quero compartilhar.

A autora, Raquel, ė, possivelmente, uma das vocês mais importantes na discussão urbana brasileira e paulistana.  

Arquiteta e urbanista, professora na FAU-USP, ex-ministra do Ministério das Cidades, a Raquel é,  também, reconhecida como uma ativista informada, defensora dos direitos à moradia, ao espaço público, à cidade. Uma mulher que tem construído um espaço de debate sobre o que é a cidade como fenômeno social e político.

O livro dela, que hoje apresento, é um debate mesmo. Também Uma conversa sobre os conflitos urbanos da cidade de São Paulo que têm origem desde a sua fundação até  os dias de hoje. Os textos têm a intenção de refletir sobre aqueles problemas, compartilhar algumas noções contextuais e históricas que ajudem a entender melhor o porquê daquilo e, especialmente, é um convite para pensar melhores formas de «fazer cidade». Ela acredita que é possível pensar  numa cidade de São Paulo mais sustentável, mais criativa, mais justa para todos.  

O livro está dividido em três grandes seções percorrendo os mais de cinco séculos de história através de temas numa ordem cronológica, o que permite entender melhor a transformação da capital paulista e o seu transfundo político e espacial.  

Nas primeiras páginas, ela narra o período da fundação colonial da cidade do século XVI até o século XXI: os rios, como elementos de conformação do núcleo urbano; a cidade, como centro das expedições bandeirantes; o desenvolvimento, por conta da indústria do café; as primeiras construções sobre a Avenida Paulista (casas da burguesia); a migração europeia; a escravidão; a cidade feita por interesses privados (quem decide onde e como se desenvolve a cidade); a cidade dos trabalhadores (sempre afastados e sempre numa condição de pessoas de segunda classe); os nordestinos, que construíram a cidade recente; as feridas da ditadura; a natureza esquecida nos planos urbanos; o problemas do lixo e/ou do abastecimento de água.

No segundo bloco do livro, apresentam-se um compêndio de textos, todos extratos do seu blog, que falam sobre os acontecimentos mais recentes.  Lutas sociais, sobre boas práticas de um urbanismo mais humano e com preocupação ambiental; tudo isso, resultado dos padrões históricos antes mencionados: modelos segregadores de desenvolvimento e jogos de poder. Cada texto é uma crítica, necessária e construtiva, ao Estado, às    teorias urbanas desenvolvimentistas que não consideram a complexidade social nem consideram os contextos naturais, e às empresas, construtoras e empreiteiras imobiliárias que têm coitado ao Estado, e porem ao valor público da cidade.

Ao final do livro, as letras constituem ensaios que descrevem as condições da grande periferia da cidade, realidade de muitos, da maioria, mas com direitos ainda de minoria.

Estes são alguns dos pontos de interesse que a autora  acha estruturais para tentar compreender como é que uma aldeia no cimo da serra  conseguiu desenvolver-se na maior metrópole da América do Sul e  ser o núcleo urbano com maior PIB do país; concentrar uma enorme oferta cultural; promover projetos de melhorias no transporte; ser (agora) o centro das movimentações políticas, ao mesmo tempo que perpetuar, de maneira sistemática, a maior desigualdade urbana das grandes cidades do mundo. Talvez, e só talvez e por isso, que nossa São Paulo é tão grandiosa, para uma minoria.