O Minhocão num PARQUE. Sim? Não? Por quê?

Na semana passada, a Prefeitura de São Paulo anunciou aquilo que muitas pessoas haviam esperado por anos: O projeto de converter aquele distribuidor viário num parque. Mas não é a primeira vez que a gente escuta isso. E não é a primeira vez que, depois do governo anunciar projetos de transformação urbana, não acontecem do mesmo jeito que foi falado ou não acontecem. Muitas vezes, isso tem a ver com a diversidade de interesses na cidade. Neste caso, o projeto é prometedor, é ampliar a rede de espaços públicos. Contudo, temos instruções e pessoas que criticam alguns  aspectos desse projeto. Por que isso? Será que o Minhocão vai ter seu parque? E se for assim, vai cumprir com as expectativas da gente?

O minhocão é um tema de debate da história recente da cidade. Por que é tão importante a discussão? 

Primeiramente, o Minhocão representa uma infraestrutura da ideia de modernidade daquela época: prioridade à mobilidade dos carros, pontes e grandes projetos monumentais. É certo que a via elevada conectou o centro com Noroeste da cidade. Porém, para os carros e não para os pedestres nem para as bicicletas. Ao contrário, essa ponte dividiu bairros, ruas, famílias, o tecido social e físico do cotidiano e deixou uma ferida de mais de três quilômetros de comprimento. 

Está comprovado no mundo inteiro que quanto mais ruas para os automóveis as cidades têm, mais carros vão chegar. A de crença que o viaduto resolve a mobilidade é um erro comprovado. O que esta cidade precisa é, ainda, de maiores investimentos no transporte público, em alternativas de mobilidade e tentar organizar o território para encurtar as distâncias entre as moradias e os empregos. 

O minhocão nasceu já com essas doenças. Desde o dia de inauguração, já tinha congestionamento segundo o jornal Estadão:

Fonte: Estadão[1] 

Junto com isso, o elevado simboliza a ditadura militar no Brasil, pois foi planejado e inaugurado no período de Costa e Silva, em 1969. Naquele momento, em que a perseguição e a censura artística existia todo dia.

Desconstruir o medo e a opressão e boa ideia. 

O elevado já tem demostrado que o seu melhor uso é ser um parque. Cada domingo às muitas faixas de carro tornam-se num lugar de encontro, de lazer, de esportes, de cultura. Nessas horas, a cidade é melhor, porque é mais amigável e justa com seus cidadãos. 

O espaço público é uma ferramenta com poderes maravilhosos, que tem mostrado para o mundo que cidades com pessoas nas ruas ou nos parques e pra planejada o   seitor privado. ë ejada opara o benefici de poucois,inclusao e diversidade soas nas ruas o nos parques e prae casças trazem segurança, geram identidade e, no geral, são espaços de inclusão social.

Fonte: Folha de São Paulo[2]

Nesse sentido, transformar essa via elevada, faz todo sentido. Então, porque as relevâncias do debate? 

Porque mudar uma rua de veículos num parque não acontece todo dia. Muito menos no Brasil e em São Paulo, que é uma cidades maioritariamente planejada para o beneficio de poucos, e o beneficio do setor privado. É compreensível ter dúvidas.

Nas redes sócias, ativistas dizem que o projeto parece não ter reconhecido o trabalho de muitas organizações sociais, de arquitetos, de urbanistas e dos vizinhos que muitas vezes desenvolveram até ideais concretos, que discutiram horas em relação ao destino do elevado. A falta de sensibilidade frente a essas ideias pode gerar desconfiança, especialmente se o projeto não foi resultado dum concurso de desenho nem de mesas de trabalho cidadãs. Aparentemente.

Por outro lado, projetos públicos de mobilidade sempre têm dificuldades de implementação. Ainda mais quando aqueles projetos têm a ver com mudanças nos princípios de comodidade das pessoas que vão de carro, que aliás, são o menos nesta cidade. Além disso, a ideia do parque coloca na discussão temas mais complexos como os valores da terra, a abertura de mais espaço público, da diversidade. 

Hoje, não é tão claro que os paulistanos sobre rodas, quatro, querem ter espaços para a diversidade: espaços públicos onde tudo tem que acontecer: o encontro, a diversão, a política. 

Há outra discussão a respeito do possível parque que é a integralidade da proposta: “Transformação não pode vir desacompanhada de medidas que ajudem a revitalizar a área.” (Folha)

E sim, o Minhocão, enquanto rua de carros, tem propiciado um deterioro no contexto: falta de continuidade das ruas, falta de luz, insegurança, lixo. A partir do projeto, com certeza muito vai se transformar. Talvez para o bem. Mas, é importante ter em conta as necessidades básicas, humanas, dos moradores de rua, os interesses dos vizinhos que tanto tempo sofreram por ter essa infraestrutura tão próxima, dos locatários que provavelmente vão ter aluguéis mais caros, e etc.

Num outro nível de diálogo, há outras pessoas que acham que as cidades, com deficiência de espaços públicos e infraestrutura, teria de ter outras prioridades geográficas de atenção: a periferia. Lá, onde nunca tem projetos dessa magnitude. Lá, onde nem tem um minhocão para conectar bairros com a cidade do emprego e das oportunidades.[3]

Tem que se transformar o Minhocão num parque? Eu acho que sim.

Fonte: Veja[4]

Eu, arquiteta e urbanista, quem acredita sempre no espaço público como ferramenta de transformação física e social, aplaudo a iniciativa. Bem!!!!!!  Os projetos, que permitem pensar numa cidade mais aberta e mais pública, são bons. Inclusive se eles têm que se replantar inteiramente. Porque o debate traz um questionamento crítico e positivo do que a cidade pode ser, para quem, como, por quê.

Mas também espero que existam espaços de diálogo públicos para apresentar aos cidadãos os detalhes do projeto e responder às perguntas. Como vai ser financiado? Como vai ser revolvido o problema de acessibilidade? Quem vai manter esse parque? Qual vai ser a imagem embaixo do parque? E os moradores de rua?

São Paulo tem uma oportunidade de transformar um espaço de disputa numa oportunidade de diálogo, de conversa, de encontro, de lazer, de inclusão, de mostrar ao mundo que quer fazer política desde a rua. Porque ao final, não é isso o que é o espaço público?


[1] em https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,fotos-historicas-o-primeiro-dia-do-minhocao,11262,0.htm?utm_source=twitter:newsfeed&utm_medium=social-organic&utm_campaign=redes-sociais:022019:e&utm_content=:::&utm_term=

[2] https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/03/minhocao-sera-fechado-a-carros-o-sabado-inteiro-a-partir-desta-semana.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twfolha

[3] http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/19.223/7270?fbclid=IwAR0LnL1eqX0Vjf1gNXvJGGoN23CAnpw-vb4vVPBpYqj4Pg6GNuzwOWNeTBg

[4] https://vejasp.abril.com.br/cidades/minhocao-capa-projeto-verde/