Recebendo visitas

É lindo receber visitas do país de origem quando se mora fora. Minha irmã e meu cunhado, com os seus dois filhos, vieram do México para o Brasil pela primeira vez.

Além de matar saudades, essa visita obrigou-me a pensar em como apresentar a minha nova cidade.

O que significa apresentar São Paulo para um turista?

Sempre se começa com os lugares mais representativos: a Avenida Paulista, que concentra parte da história moderna da cidade e do país – os prédios dos bancos, as instituições, os novos museus como a Instituto Moreira Salles ou o SESC Paulista (que foi renovado e aberto no ano passado); a Paulista, aos domingos, vira uma festa – jovens de bicicleta e/ou patins, crianças, músicos.

Depois uma visita ao centro de São Paulo, é obrigatório: explicar a origem da cidade entre os rios que hoje se encontram por debaixo das ruas e avenidas, o Teatro Municipal, a Praça da República e o Edifício Copan – inclusive os moradores de rua que fazem parte da imagem dessa cidade.

Os parques como o Ibirapuera e a história dos Bandeirantes ou a Praça da Luz – primeiro parque da cidade – a estação da Luz, que ainda funciona muito bem, com seus trens que se conectam com outras cidades.

O que significa para mim, uma estrangeira?

Francis Alÿs, um artista e arquiteto belga, que mora na Cidade do México fez, há vários anos, um happening pelo centro da capital mexicana, pendurando em si mesmo um cartaz de venda de serviços, no corpo, com o texto “turista”. Ele estava parado junto com outros homens que também tinham os seus próprios cartazes: “marceneiro” ,“pedreiro” , “pintor”. Ele acreditava que os seus olhos, de estrangeiro, poderiam dar um serviço extra na mirada local.

E assim é que eu também gosto de me pensar nesta cidade. Como uma estrangeira, que com a visão distante, mais aberta às experiências novas, pode contar para os paulistanos, e para os estrangeiros, diferentes versões da vida urbana.

Para quem vem de fora, os espaços públicos, o transporte coletivo, as ruas, são a base de exploração. E, nessa cidade, onde os setores privados têm dominado por muitos anos o desenvolvimento urbano, é uma aventura percorrer e construir um cotidiano fácil. Foi assim que as viagens de transporte público, que têm melhorado muito nos últimos anos, pelos centros culturais, bibliotecas, feiras têm um papel importante na aventura pela descoberta urbana.

Porque o turismo também tem mudado nas últimas décadas. Há lugares feitos exclusivamente para o lazer como as praias, mas a cidade e seus bairros têm mais do que isso e há pessoas que gostam de ver como é que funciona a vida de todo dia. Os botecos das esquinas, o que vendem, os restaurantes japoneses, as pequenas praças, as histórias dos elementos pouco visíveis. Todos os elementos da vida comum, que são imprescindíveis para construir uma ideia do que é a cidade. Cada supermercado tem algo que contar: as frutas diferentes, os preços que mudam, o caminho pelas suas lojas… Os novos patinetes que têm mais a cada dia, os bares clássicos e os velhos, o versas desde as janelas, desde aí os prédios que têm piscina, ou aqueles que não têm…

Até a casa faz parte dos “pontos de interesse”:  os preços do aluguel, a configuração dos espaços, a numeração dos andares, as histórias da zeladora, as vistas diversas desde as janelas, desde aí os prédios que têm piscina, ou aqueles que não têm.

Enfim, compartilhar o cotidiano.

Ser turista também pode ser viver o cotidiano do outro. Como minha irmã disse-me: “não se preocupe, a gente veio visitar você e ver como é que você vive aqui em São Paulo.”