Todo dia

A Bienal de arquitetura deste ano, a de número 12, começou essa semana. E começou bem.
O IAB-SP, Instituto de Arquitetos do Brasil de São Paulo, convidou, pela primeira vez, o concurso internacional de curadoria. Nas bases: a discussão, a criticidade e o papel da arquitetura na sociedade, em tempos críticos.
Os ganhadores, três arquitetos: Vanessa Grossman, Charlotte Malterre Barthes e Ciro Miguel.
A proposta ganhadora: “todo dia – everyday”, isso que acontece todo dia, aquilo que faz parte do cotidiano da maioria das pessoas. A rotina, a vida cotidiana, o acordar na cidade, o morar na arquitetura, os deslocamentos na cidade, o uso dos grandes projetos.
Pode ser isso, mas também é voltar a ver os projetos de arquitetura desde outra perspectiva: a partir daquilo que vai mexer com a vida normal das pessoas. Esse olhar é um convite para refletir sobre a responsabilidade que o desenho arquitetônico e urbano tem com a qualidade de vida das pessoas e da cidade.
Pensar no cotidiano significa não ver o extraordinário ou pensar no ideal, mas visibilizar o ordinário.

Como parte da proposta, a Bienal acontece em dois prédios que, para os curadores, são símbolos do conceito e do cotidiano: o Sesc 24 de Maio (2017), de Paulo Mendes da Rocha e o MMBB e Centro Cultural São Paulo (1982) de Eurico Prado e Luiz Telles.

Os projetos apresentados nas sedes foram selecionados a partir de uma convocatória, organizada em três eixos temáticos: Relatos do Cotidiano, Materiais do Dia a Dia e Manutenções Diárias. Planos, imagens, fotos, instalações, croquis. Relatos. Materiais de limpeza. Ferramentas de obra. Coisas, objetos, conteúdo que problematizam as mediações contemporâneas do plano cotidiano em diferentes escalas: do corpo aos objetos, dos espaços interiores aos limites planetários.

Então, parece que esse exercício propõe nos afastar das imagens tradicionais da arquitetura cênica e grandiosa, além  de aproximar-nos dos processos e projetos por trás das imagens de render, o que está por trás das fachadas e as maquetes de concurso: as maquetes de trabalho, a mão de obra, as obras públicas e os projetos que sustentam os projetos das revistas.

O “todo dia”:

O que não é evidente.

O indeterminado.

O popular

O “real”?

Começar a pensar no real e nas realidades dos outros, visibilizar aquilo que normalmente não tem espaço nas discussões de congressos e nos desenhos nas aulas de arquitetura, nestes momentos de nebulosidade política, de questionamentos da ciência, não é banal. Nem apenas diferente, mas é necessário.

Andrés Jaque (Espanha) sobre o Pavilhão de Mies em Barcelona



Daniel Talesnik (Alemanha – Chile) sobre Acceso a todos, uma exposição sobre São Paulo em Munich

Fraya Frehse (São Paulo) sobre a relação entre os projetos de arquitetura e a rua.